Hei de contar de ti aos meus netos,
Usando-me da analogia
a que te associei: o mar.
Explico-me: o mar é tão vasto, profundo, misterioso,
Tão violento e amedrontador
Que me parecia a palavra perfeita para te elogiar.
Sempre me admirei com o mar
E poderia passar horas o observando:
Como a ti, em tuas corriqueirices,
Nos momentos de prazer,
Ao dobrar o
corredor desatenta,
Os meus olhos se deleitavam com tua presença.
Em um mês eu
já era teu,
O peito aos solavancos entregava os sentimentos
Que meus lábios
emudeciam,
Era só te ver e me sentir flutuar em tua voz,
Em tua presença e tua
ausência.
Tudo era você e você era tudo o que havia.
Nunca apavorei-me tanto.
Aos dois meses eu já estava cativo de tua paisagem
E esperava, paciente, deitar meus olhos sobre os teus
Enquanto o sol espreguiçava
do lado de fora.
A lua espreitava-me implorando que dormisse,
Mas tudo o que eu
desejava
Era ser tragado por sua imensidão noite afora, dia adentro.
Perder-me
em seus movimentos.
Escrevi-te cem poemas aos três meses,
Todos temiam o
afogamento.
Em ti, no sentimento, em mim.
As ânsias torturavam-me.
Perdi-me em tua corrente,
E embriagado pela profundeza,
Eu quis voltar ao cais.
Atirei-me à praia,
Praguejei aos céus por me deixar levar.
Com a cabeça entre
os joelhos,
Cuspi tudo o que engoli de ti.
À distância eu te vi sorrir,
Juntei
meus restos e parti.
Navegar não é preciso.