domingo, 1 de outubro de 2017

Conheci um homem de olhos tristes
Era fim de tarde de um dia abafado
Fazia 26º graus e o movimento estava lento
Algumas pessoas agoniadas esperavam seus ônibus

Ele puxou assunto sobre meu cabelo
Perguntou sobre minhas tatuagens
Sabia de onde cada verso havia saído
Contou de seu dia, de seu trabalho, de sua família.
Me olhava nos olhos, com um misto de interesse e carinho.

Pediu as horas. Disse que há muito não via alguém
de minha idade que ainda usava relógio e lia Shakespeare:
"Toda essa tecnologia, a impaciência".
Contei que há muito não conversava despretensiosamente
com alguém no ponto de ônibus.
Nos olhamos nos olhos,
com o mesmo misto de carinho e cumplicidade,
almas que se tocavam.

Pediu desculpa por "tagarelar", mas estava tendo um dia difícil
achava raro encontrar gente assim:
"Como um táxi disponível no ponto, quase acenando para que alguém se aproxime".
Surgiu um pontinho de alegria,
não em seus olhos tristes,
mas em meus olhos cansados.

Pegou seu ônibus e nunca mais o vi,
e confesso, também, que nunca o esqueci.

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